23/05/2016

Guerra e Paz - Liev Tolstói / Diário de Leitura #11

Em 2016, leio Guerra e Paz pela primeira vez e registro aqui um diário de leitura com postagens para cada uma das partes dos quatro tomos e epílogo.

Postagens:

Tomo 3 - Terceira Parte



 Trollada, amigos, eu fui trollada por Tolstói. Nunca imaginei. Meses de dedicação à leitura de Guerra e Paz, e é isso que ganho em troca. Tudo bem, pois o importante é que, ~por enquanto~, Andrei está vivo; a despeito do "ferimento com cheiro de carne pútrida" e das "perdas de consciência provocadas pela dor intensa" que, convenhamos, não sugerem um prognóstico exatamente favorável.

 Talvez eu esteja esmorecendo na reta final, mas o fato é que a leitura dessa parte foi meio arrastada e enfadonha. A narrativa concentrou-se no recuo das tropas russas para o interior do país, tendo em vista que o comando militar decidiu que a melhor única estratégia possível seria abandonar e entregar Moscou aos franceses sem oferecer nenhuma resistência. Pelo tom do relato, Tolstói deixou transparecer sentimentos pessoais de bastante vergonha e amargura em relação às cenas lamentáveis que sucederam-se naquele momento histórico.
"Moscou foi incendiada por seus habitantes, é verdade; mas não pelos habitantes que ficaram nela, e sim por aqueles que a abandonaram. Moscou, ocupada pelo inimigo, não ficou intacta, como Berlim, Viena e outras cidades, só porque seus habitantes deram pão e sal e as chaves da cidade para os franceses, mas porque a abandonaram."
A contragosto de Rostoptchin, governador-geral da cidade, a nobreza moscovita, que podia ser chamada de qualquer coisa menos de idiota, tratou de escafeder-se da cidade levando consigo todas as posses de valor possíveis. Para usar a metáfora escolhida por Tolstói, só uma "ralé" de 10.000 abelhas operárias permaneceram na "colmeia moribunda sem sua rainha"; grupos de bêbados, taberneiros, ferreiros e trabalhadores de fábrica que cometeram a besteira de confiar nas ~autoridades~. De qualquer forma, que diferença um alerta teria feito àquelas pessoas? Como fugiriam? Para onde? 

Em tais circunstâncias, Bonaparte não encontra em Moscou uma efusiva e calorosa comitiva de boas-vindas como ele havia imaginado em seus delírios megalomaníacos, mas apenas uma cidade fantasma que praticamente implorava para ser saqueada pelas tropas francesas.


↪ No mais, Pierre e Andrei avançaram mais algumas casas das suas respectivas jornadas:

> Andrei é agraciado com a epifania de que "All you need is love"; de que a vida resume-se simplesmente em levar a sério o primeiro mandamento de Deus e suas repercussões. (que papo chato...) Como ele parece sempre dar um jeito de estar na hora e lugar certos, conseguiu ser um dos feridos transportados pelas carruagens dos Rostóv em fuga e, assim, reunir-se novamente com Natacha. - Bastante conveniente isso aí, Tolstói. - Acho que essa foi a terceira aparição triunfal dele na história, quase um Jean Valjean do Guerra e Paz.

> Pierre... ai, ai, sei lá; aparentemente ele persiste com o plano de salvar o mundo da Besta Napoleônica, embora ainda não tenha atinado exatamente como cumprirá esse seu destino messiânico. Ele volta da batalha mais perturbado do que nunca (pensei que isso não fosse possível, mas me enganei) e, ao contrário de Andrei, ainda não foi contemplado com uma revelação que responda às suas angústias existenciais: livrar-se de tudo que é supérfluo na vida, ter um propósito no mundo e, acima de tudo, dominar o medo da morte. De todo jeito, ele já conseguiu salvar duas pessoas de um fim trágico: um comandante francês (!) e uma criança russa. - Muito bem, Pierre!

Ah, claro, e tem a esposa que pretende divorciar-se dele para casar com outro. Pode parecer uma bobagem fácil, mas, naquela época, a mulher divorciada não podia casar-se novamente caso o ex-marido ainda estivesse vivo. Francamente. 

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